O peso de cada um
(MAM-Rio, 2015)
A exposição “O peso de cada um” representou uma guinada na obra que Iole de Freitas vinha desenvolvendo até o início de 2014. Às placas de policarbonato anteriores, a artista substitui lâminas de aço inoxidável, cuja resistência é maior e a maleabilidade, difícil, exigindo torções mais intensas e cálculos cirúrgicos de engenharia, justo em função da rigidez e do peso do material.
Para a crítica Ligia Canongia, apesar das especificidades da matéria, algumas esculturas suspensas no ar, evoluem no espaço como uma dança aérea imponderável, contrapondo a seu peso original a ideia de leveza e movimento. A linha tênue entre o gestual e o geométrico ou entre a expressividade e a precisão formal, que sempre acompanhou o conjunto da obra, permanece nas peças atuais, mas com a recuperação discreta dos reflexos e espelhamentos que a artista utilizava nos trabalhos dos anos 1970, quando iniciou a carreira.O espelhamento, no entanto, atinge o corpo diferentemente nesses dois vértices do tempo. No trabalho antigo, Iole realizava uma performance sobre estilhaços de espelhos, e o registro fotográfico dessa ação refletia os efeitos da fragmentação da imagem, indiciando o estilhaçar do próprio eu lírico ali figurado. Agora, a superfície das placas de aço escovado embaça a visão do corpo, transformando-o num vulto cujas formas se esfumaçam no ato mesmo de sua reflexão. Em ambas as operações, porém, a duplicata absoluta do espelho se subverte, seja pela fragmentação da integridade do corpo, em franca alusão cubista, seja pela sugestão de um corpo informe e sem carne, que contraria os efeitos meramente físicos e especulares do aço, para se espiralar no simbólico.

Vistas da exposição O peso de cada um, realizada no Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, 2015. Fotos: Sergio Araujo.
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