Casa França-Brasil
(Instalação, 2009)



O visitante que ingressa no edifício da Casa França-Brasil, desembarcando, de imediato, na ampla nave da antiga sede da Praça de Comércio do Rio de Janeiro, a que a construção originalmente se destinava quando inaugurou, em 1820, talvez não atine de imediato com a presença do trabalho de Iole de Freitas. 

À primeira vista, esse trabalho parece apenas acompanhar, na mais suprema discrição, o ritmo compassado e frugal da arquitetura de Grandjean de Montigny, por contraste respondendo à sua monumentalidade solene com uma delicada estrutura aérea de tubos metálicos, entrecruzada aqui e ali por serpenteados planos de policarbonato transparente. A despeito de resultarem em jogos de reflexos, transparências e arabescos que parecem querer fazer evaporar a força assertiva das linhas metálicas, esses planos não intervêm no desenvolvimento marcadamente horizontal do trabalho.

Pelo contrário, as chapas, de uma pureza cristalina, agregam velocidade à estrutura linear, e curiosamente a impelem, em toda a sua extensão, a um movimento ascensional; tal movimento, sem culminar em ponto algum – nem mesmo na cúpula que arremata a planta central do edifício histórico –, expande o trabalho em todas as direções, contrapondo um inesperado impulso de descompartimentação e expansão vertical ao ritmo horizontal de progressão da nave, que é ainda sublinhado por sequências regulares de arcos romanos e colunas dóricas. Tudo, afinal, nessa arquitetura, quer afetar simplicidade e sobriedade, e o trabalho não se faz de rogado para confirmar essas qualidades; apenas extrai delas, como se verá, outros significados, que não o da representação de uma autoridade, função primeira à qual o prédio histórico se destinava.


Sônia Salzstein
 

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