Fazer o Ar
(Paço Imperial, 2025)
Com mais de 50 anos de trajetória, Iole de Freitas continua produzindo e experimentando novos materiais. É o caso da exposição Fazer o ar, com curadoria do poeta Eucanaã Ferraz. A mostra apresenta cerca de 16 trabalhos inéditos, que exploram o volume e o ar. Obras em grandes dimensões chamadas “Mantos”, feitas com papel glassine, com tamanhos que chegam a quase 4 metros, esculturas da série inédita “Algas”, em aço inox, e a obra “Escada”, feita em 2023, mas que ganhou uma montagem inédita na exposição.
Nos grandes volumes brancos da série “Mantos”, o papel é preenchido com ar, inflando-o e criando grandes superfícies, que então recebem água, areia e cola, que vão moldando, esculpindo e estruturando o papel até formarem os Mantos. Alguns ainda ganham novos elementos, como cobre, palha e pedras gipsitas. “Iole testa em cada obra as verdades físicas de seu corpo e do material que utiliza. Basta ver para inferirmos o quanto as formas nasceram da peleja, da disputa entre o gesto e o papel. É flagrante a atuação de uma inteligência física. O papel era liso, neutro, sem corpo nem memória, sem ar, inerte, ausente. Iole soprou nele. Deu a ele o sopro da vida. O papel, agora, está vivo. Veja: ele respira”, afirma o curador Eucanaã Ferraz.
Um único Manto vermelho fará parte da exposição. “A cor vermelha/ rubra traz uma dramaticidade, que vem também das grandes e pesadas cortinas, que emolduram os palcos como as do Theatro Municipal, no Rio de Janeiro, onde dancei. Esta experiência ficou impregnada em mim como um momento dramático de determinada cena”, conta a artista que é formada em dança contemporânea. “O Manto vermelho fere-nos como o único ponto de cor em toda a exposição. Contrário ao branco, o vermelho afirma no espaço sua disposição corpórea, material, contrária à vaga espiritualidade da brancura circundante.
Na última sala da exposição, estará a obra “Escada”, composta por uma estrutura em aço inox feita de cortes, dobras e solda, que se assemelham a degraus. Ela será colocada na parede, dividida em duas partes, junto a dois vídeos com registros de performances que a artista realizou com seu neto Bento Dias. “Desordenada e arquitetonicamente extravagante, verticalizada numa grande parede, a Escada, como as Algas, é arabesco; enorme; é, como os Mantos, um (dois) plano(s) amarrotado(s). Mas o ar parece ser o mais importante ponto em comum: sem um endereçamento místico ou mítico, a verticalização da Escada sugere-nos o alto como pura abertura, movimento desimpedido, circulação, respiração, vento. Tudo tende à verticalização, como se o ar tivesse de ser buscado no alto”, diz Eucanaã Ferraz.





